Arcadismo do Brasil: Contexto, características e autores

O que é o Arcadismo?

O Arcadismo foi um movimento literário do século XVIII que buscava simplicidade, natureza e valores pastoris. Celebrava a vida campestre e o amor simples, com poetas retratando essa temática em suas obras.

Contexto histórico

No século XVIII nascem na Europa os princípios do liberalismo propiciados pelos iluministas, que, apoiados pela participação popular, promoveram a Revolução Francesa. Nesse contexto surge o Arcadismo, baseado na cultura Greco-romana, revelando uma série de convenções que deveriam ser seguidas pelos poetas que frequentavam as arcádias.

Do ponto de vista estético, os iluministas “pregavam” que a poesia deveria ser nítida, clara e racional como a natureza. Surgem nessa época as Arcádias, que divulgavam as ideias aristotélicas de que a poesia tinha que imitar o mundo. Apoiada na teoria poética de Aristóteles, a estética neoclássica, Arcadismo, considera o verossímil, o crível, o possível, o que parece verdade.

Vamos enumerar as principais convenções utilizadas pelos poetas árcades ou neoclássicos:

Carpe diem

Aproveitar o dia, a juventude, com a máxima intensidade, pois o tempo passa com muita rapidez.

Locus amoenus

Lugar tranquilo, aprazível, bucólico.

Fugere urbem

Os autores recomendam a fuga do espaço urbano, das cidades.

Inutilia truncat

Cortar o inútil, valorizar uma linguagem simples, contrária aos exageros cultistas da escola Barroca.

Aurea mediocritas

O meio-termo é de ouro

arcadismo do brasil

O Arcadismo do Brasil

O estudo da literatura brasileira do século XVIII, segundo Luiz Roncari, no livro Literatura Brasileira, deve levar em consideração dois fatos: a descoberta do ouro no Brasil e a profunda revolução, no
mundo das ideias, vivida pela Europa, fato que convencionou chamar esse período de Século das Luzes.

No Brasil, a descoberta do ouro na região de Minas Gerais fez os homens fundarem vilas e cidades.
Com o ciclo da mineração no estado de Minas Gerais, a cidade de Vila Rica, hoje Ouro Preto, tornou-se o centro econômico e propiciou o surgimento de uma sociedade mais culta, mais refinada.

Roncari argumenta que a “exploração do ouro abriu ao homem da Colônia uma vida muito mais rica em contatos e possibilidades. Seus horizontes se ampliaram, não se restringindo mais aos do mundinho
do engenho”.

Características do Arcadismo

Ao falar do processo estilístico, das questões da linguagem, Alfredo Bosi, em História concisa da literatura brasileira, salienta que se buscava uma linguagem musicalmente fácil, ajustada a temas bucólicos. Para Bosi, a verossimilhança e a simplicidade foram as notas formais prezadas pelos árcades.

Busca-se, ao contrário do Barroco, um estilo racional, claro, regular. Os prados, os rios e os montes servem como pano de fundo para s inquietações amorosas de poetas como Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga.

Ainda segundo Alfredo Bosi, Gonzaga nada fica a dever aos autores europeus, pois suas liras são exemplos de aureas mediocritas que aparam as demasias do sentimento. Você reconhecerá que esse sentimentalismo, a evasão, o sonho, são algumas tendências básicas de outra Escola Literária Brasileira, o Romantismo.


RESUMO

ARCADISMO ou NEOCLASSICISMO

INFLUÊNCIA IDEOLÓGICA

Enciclopedismo de Rousseau, Voltaire, Diderot.

TENDÊNCIAS GERAIS

Imitação dos clássicos.

CARACTERÍSTICAS

Evocação da vida pastoril, equilíbrio, presença da mitologia greco – latina.

Arcadismo - Principais autores

Assim, a obra dos poetas brasileiros do século XVIII, nomes como Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto, guarda uma íntima conexão com esse novo mundo que se configurava, um mundo mais citadino, mais polido.

TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA

Filho de um magistrado brasileiro, Gonzaga teve uma educação refi nada, formou-se em Direito e escreveu quando jovem o Tratado de Direito Natural. Em 1792 chega a Vila Rica para exercer a procuradoria.

Lutou contra a tirania do governador mineiro e seu principal desafeto político, Luis da Cunha Meneses, o fanfarrão minésio, que favorecia a exploração do ouro pelos colonizadores portugueses,principal assunto da sua produção satírica, as Cartas Chilenas, que circulavam no anonimato.

CARTAS CHILENAS

São doze cartas de autoria de Gonzaga, que usava na época o pseudônimo de Critilo, e eram destinadas ao amigo Doroteu, Cláudio Manuel da Costa. O poeta tenta mostrar, num tom de denúncia, que
o Chile (Minas Gerais) vivia sempre à mercê dos desmandos do fanfarrão. Observe, no exemplo abaixo, que o fi o condutor da carta é ideológico, uma denúncia social.

Amigo Doroteu, prezado amigo
Abre os olhos, boceja, estende os braços
E limpa das pestanas carregadas
O pegajoso humor, que o sono ajunta.
Critilo, o teu Critilo, é quem te chama
Ergue a cabeça da engomada fronha,
Acorda, se ouvir queres cousas raras

MARÍLIA DE DIRCEU

Considerada a obra mais importante do século XVIII, as liras de Tomás Antônio Gonzaga revelam, principalmente no seu início, a contenção e a simplicidade da poesia neoclássica. 

O leitor se depara com os chamados lugares-comuns: a paisagem bucólica, a tranquilidade da vida campestre, um pastor que descreve sua pastora convidando-a para viver o dia, o carpe diem, porque a vida se mostra efêmera, passageira.

Ao analisar o poema de Gonzaga, Antonio Candido, no livro Na sala de aula, assinala que há no texto uma limpidez devido à ordem expositiva clara e direta, com raras inversões sintáticas.

Segundo Candido, “habituado às neblinas da poesia contemporânea, o leitor fica meio perplexo com este discurso despojado e sem mistério”.

Para ele essa simplicidade é fruto de uma contensão elaborada, não de uma tranquilidade real. O trecho a seguir exemplifica bem a limpidez e a serenidade da poesia de Gonzaga:

LIRA XXXIV

(FRAGMENTO)

Minha bela Marília, tudo passa
A sorte deste mundo é mal segura
Se vem depois dos males a ventura
Vem depois dos prazeres a desgraça
[…]
Ornemos nossas testas com as fl ores
E façamos de feno um brando leito;
Prendamo-nos, Marília , em laço estreito.

CLÁUDIO MANUEL DA COSTA

Entre os árcades, segundo Alfredo Bosi, foi o mais acabado poeta neoclássico, dono de uma Vasta cultura humanística.
Adotou o pseudônimo pastoril de Glauceste Satúrnio e descreveu várias pastoras em geral inacessíveis.

Um dos elementos que diferenciam Cláudio Manuel da Costa de outros do período árcade é o fato de manter características do estilo barroco, conservando em alguns textos o rebuscamento sintático por meio de inversões. Vejamos um exemplo desse procedimento:

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado;
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!

Transpondo os dois primeiros versos da estrofe para a ordem direta, temos: Houve uma fonte aqui; eu não me esqueço / de estar reclinada a ela um dia.

BASÍLIO DA GAMA

A obra mais conhecida de José Basílio da Gama (Minas Gerais, 1741 – Lisboa, 1795) é o Uraguai, poema épico em que mescla a louvação ao Marquês de Pombal e o heroísmo indígena, restando aos jesuítas o papel de vilões. A obra é de escrita leve, construída com versos decassílabos brancos. No poema se narra a história da luta entre os luso-castelhanos e os missionários dos Sete Povos. Assim se inicia o poema:

Fumam ainda nas desertas praias
Lagos de sangue, tépidos e impuros,
Em que ondeiam cadáveres despidos,
Pasto de corvos.

Segundo Alfredo Bosi, o texto contém antecipação de figuras românticas, mostrando uma relação mais íntima dos sentidos como mundo. Observe-se este fragmento:

Medrosa deixa o ninho a vez primeira
Águia, que depois foge à humilde terra,
E vai ver mais de perto, no ar vazio,
O espaço azul, onde não chega o raio.

Enfim, junto a um ribeiro, que atravessa,
Sereno e manso, um curvo e fresco vale,
Acharam, os que o campo descobriram,
Um cavalo anelante e o peito e as ancas
Cobertos de suor e branca espuma.

Sete Povos das Missões ou Missões Orientais
Sete Povos das Missões ou Missões Orientais

Sete Povos das Missões ou Missões Orientais

Conjunto de sete aldeamentos indígenas fundados por padres jesuítas, localizado a leste do rio Uruguai no extremo sul do Brasil.

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